A vacinação contra o HPV

A vacinação contra o HPV

O Human papillomavirus, ou HPV, é um vírus sexualmente transmissível de alta prevalência responsável pelo desenvolvimento de verrugas anogenitais e tumores malignos no ser humano.  Seu ciclo de vida ocorre de maneira previsível, com o contágio pela via sexual, mas também pode ocorrer de mãe para filho durante o parto. Como toda doença sexualmente transmissível, tem o pico de transmissão na adolescência/início da vida adulta, coincidindo com o despertar para a atividade sexual nos jovens.

Na maior parte das vezes, a infecção pelo HPV é temporária e tem resolução espontânea em 6 a 12 meses. Existe ainda a possibilidade de o vírus entrar em estado de latência, uma espécie de periodo de hibernação, com possibilidade de reativação viral posterior. No entanto, uma parte das pacientes com infecção persistente irá progredir com lesões pré cancerígenas. Estima-se que uma lesão pré cancerigena gaste cerca de 10 anos para se tornar um câncer.

Virtualmente, todos os casos de câncer de colo uterino são atribuíveis à infecção persistente pelo HPV. Existem mais de 40 subtipos deste vírus que infectam o trato genital feminino, porém apenas 15 são considerados carcinogênicos. Estes subtipos são chamados de alto risco e neste grupo destacamos os subtipos 16 e 18, que são responsáveis por aproximadamente 70% de todos os casos de doença maligna e 50% de todas as lesões pré cancerigenas.

O câncer de colo uterino é a 3ª neoplasia mais comum no mundo, e no Brasil ocupa a segunda posição entre as mulheres. Para o ano de 2014, a estimativa de novos casos no nosso país era em torno de 15590 casos segundo dados do INCA. Em 2012, este câncer foi responsável por 265 mil óbitos, sendo quase 90% deles em países em desenvolvimento. Seguindo uma tendência mundial, o Brasil apresenta maiores índices da doença em regiões onde o acesso à saúde e ao exame de prevenção é pior, sendo o mais incidente na região norte e apenas o quinto mais frequente na região sul.

O exame de citologia oncótica cervical, também conhecido como Papanicolau, consiste em poderosa ferramenta na prevenção e diagnóstico precoce do câncer de colo uterino e é recomendado para toda mulher entre 25 e 64 anos.

O HPV pode também causar outras neoplasias, como câncer de vulva e vagina, câncer de canal anal, câncer de pênis e câncer de orofaringe. No entanto, nestas, vírus é responsável por uma menor proporção no número de casos.

Existem atualmente no mercado mundial três tipos de vacinas, e elas variam de acordo com o número de subtipos de HPV contra os quais elas agem. São elas:

·         Cervarix, bivalente, contra os subtipos 16 e 18

·         Gardasil, quadrivalente, contra subtipos 6, 11, 16 e 18

·         Gardasil 9, contra suptipos 6,11,16,18, 31,33, 45, 52 e 58

No mercado brasileiro estão disponíveis apenas as duas primeiras. A recomendação é que se vacinem crianças ainda sem contato com o vírus, porém existe a possibilidade de uma vacinação de resgate em mulheres de 13 aos 26 anos. A vacinação de mulheres acima de 26 anos e homens é controversa.

O Ministério da Saúde recomenda a vacinação de meninas de 9 a 11 anos, porém meninas de 12 e 13 anos não vacinadas também receberão a vacina. A vacina está no calendário vacinal desde o ano de 2014 e no ano de 2015 a primeira dose foi disponibilizada em março. Estão previstas 3 doses, sendo o intervalo entre a primeira e a terceira dose de seis meses e a segunda dose 60 dias após a primeira. Em geral, a proteção é atingida após segunda dose. O Ministério disponibiliza a forma quadrivalente da vacina.

Todas as apresentações da vacina contra o HPV demonstraram ser efetivas na prevenção de lesões pré-cancerígenas de colo uterino, além de prevenir cânceres de colo uterino, vulva e vagina, com até 90% de proteção. Há indícios fortes de efetividade da vacina também para câncer de canal anal e de orofaringe.

A vacina contra o HPV é produzida com partículas de capsídeo viral, a membrana externa do vírus, não contendo material genético viral. Este fato garante segurança a sua administração, o que pode ser comprovado pelos registros de efeitos colaterais onde predominam reações locais. Dor de cabeça, enjôo, vômito, fraqueza e tonteira também podem ocorrer. No caso da vacina quadrivalente existe associação pequena com episódios de síncope no dia da aplicação. Não há registros de morte causada pela vacina.

A vacinação contra o HPV é hoje uma alternativa viável e disponível na luta contra o câncer de colo uterino, com menor impacto humano, financeiro e social que o tratamento desta neoplasia. Só nos resta vacinar!

Referências Bibliográficas

1) Age-appropriate use of human pappilomavirus vaccines in the US; Castle PE, Fetterman B, Akthar I, Husain M, Gold MA, Guido R, Glass AG, Kinney W. Gynecol Oncol. 2009; 114 (2):365

2) Forman D, de Martel C, Lacey CJ, et al. Global burden of human papillomavirus and related diseases.  Vaccine. 2012 Nov;30 Suppl 5:F12-23

3) Quadrivalent Vaccine against Human Papillomavirus to Prevent High-Grade Cervical Lesions; N Engl J Med 2007; 356:1915-1927

4) Four year efficacy of prophylactic human papillomavirus quadrivalent vaccine against low grade cervical, vulvar, and vaginal intraepithelial neoplasia and anogenital warts: randomised controlled trial; Dillner J et al; BMJ 2010 Jul 20;341:c3493.  

http://www.inca.gov.br/estimativa/2014/sintese-de-resultados-comentarios.asp

http://www.uptodate.com

http://portalarquivos.saude.gov.br/campanhas/hpv/

 

Autores:

Dra Maria Helena Rangel

Médica residente do serviço de oncologia Clínica Hospital Felicio Rocho

Dr. Volney Soares Lima
CRM MG 33029 / RQE 15235

Médico Oncologista Clínico do Hospital Felicio Rocho, da clinica Oncocentro BH, da Urológica e do IPSEMG

Membro Titular Sociedade Brasileira Oncologia Clinica

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