Câncer de Canal Anal

Câncer de Canal Anal

Os tumores que acometem o ânus e o canal anal correspondem a cerca de 2,5% de todos os cânceres que acometem o sistema digestivo. Portanto, estamos diante de uma neoplasia de baixa incidência e, digamos, rara.

O tipo histológico mais comum é o carcinoma de células escamosas, mas o adenocarcinoma e o melanoma também podem ocorrer no canal anal.

Fatores de risco para a doença são:

Infecção pelo Human Papiloma Virus (HPV), que são comuns nas verrugas ano-genitais;

Histórico de sexo passivo por via anal;

Promiscuidade (vários parceiros sexuais);

Passado de doenças sexualmente transmissíveis (por ex., gonorreia e herpes);

História pregressa de câncer do colo do útero, vulva ou de vagina;

Imunossupressão pós transplante de órgãos ou infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV);

Neoplasias hematológicas;

Certas doenças auto-imunes;

Tabagismo.

A prevenção da doença é feita a partir do estímulo a hábitos de vida saudáveis, uso de preservativos durante ato sexual e vacinação.

Dentre os fatores de risco listados acima, o que tem maior associação com o surgimento desse tipo de câncer é a infecção pelos subtipos 16 e 18 do HPV.

Tal fato justifica o esforço das autoridades de saúde em vacinar meninos e meninas entre 9 e 26 anos de idade, uma vez que estudos científicos confirmam que até essa idade há chance dos indivíduos ainda não terem sido infectados pelo vírus. O HPV é transmitido por via sexual, e sua incidência é alta na população mundial.

O Governo do Brasil oferece a vacina quadrivalente na rede pública de saúde. Esta confere taxas de imunização efetiva de até 77,5% de acordo com trabalhos científicos. No caso do SUS, a vacinação é feita por meio de 3 doses, para meninas entre 9 e 13 anos de idade (fase anterior ao início da vida sexual).

Como a prevalência do vírus é grande na população, especialmente de países em desenvolvimento (caso do Brasil), a chance da pessoa ser portadora do HPV é real. Em estados de baixa da imunidade o HPV tem menor resistência à colonização e permanência no organismo da pessoa, assim, doenças ou infecções crônicas que levem à perda parcial das funções do sistema imunológico também são responsáveis por parte dos tumores do canal anal.

O diagnóstico da doença pode ser feito pela inspeção externa do ânus, pelo exame digital da margem anal e do canal anal e, ainda, por retossigmoidoscopia ou colonoscopia. O uso de tomografia, ressonância magnética e PET também podem ser indicados. Após os exames clínicos e de imagem, mesmo que seja forte a suspeita diagnóstica, esta é necessariamente confirmada por biópsia.

Nas populações de risco para a doença (portadores do HIV, por ex.) o exame genital deve ser avaliado pelo médico assistente. Caso alguma alteração seja encontrada, o uso de eletrocauterização ou de medicamentos tópicos deve ser considerado. Isso visa o tratamento de neoplasias em estados iniciais ou verrugas suspeitas.

A apresentação da doença em 45% dos casos ocorre com sangramento retal, e, em até 30% dos pacientes, existe tanto dor quanto sensação de evacuação incompleta. Podem haver ainda mudanças no hábito intestinal, úlceras ou “caroços” anais, coceira anal, perda de fezes espontaneamente (incontinência) e, nos casos mais avançados, o paciente pode perceber ínguas nas virilhas.

A doença pode se apresentar em diferentes graus de evolução, sendo o grau I o mais inicial e o grau IV o mais avançado. Aproximadamente 12% dos novos casos são diagnosticados já com a doença espalhada a outros pontos do corpo (metástases), e estudos demonstram taxas de sobrevida de 30% em 5 anos.

Sabemos que aquelas doenças que ultrapassam os limites do canal anal e acometem os linfonodos (ínguas) tendem a apresentar menor taxa de cura. Isso é chamado em medicina de fator prognóstico independente. Além dessa característica, outras associadas a limitações nos resultados do tratamento são o tamanho tumoral além de 5cm e sexo masculino. Já a infecção confirmada pelo HPV-p16 é preditor de melhores desfechos.

O tratamento do câncer do canal anal emprega o uso de radioterapia e quimioterapia. Esta compreende uso de medicações por via venosa. E, no caso dessa neoplasia, as drogas mais efetivas são o 5-fluouracil (ou capecitabina), a cisplatina e a mitomicina (já fora do mercado). Já a radioterapia faz uso de radiação sobre a área da doença.

A neoplasia do canal anal pode impactar profundamente na qualidade de vida do paciente e, frente à complexidade da situação a ser tratada, o oncologista clínico, habitualmente, trabalha com uma equipe multidisciplinar. Esta inclui o radioterapeuta, coloproctologista, nutricionista, psicólogo, enfermeiros, etc.

É muito importante que toda a equipe de saúde trabalhe em sintonia com a família e os desejos do paciente. Esse tripé é a base do sucesso do tratamento.

Referências:

1)      http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/tiposdecancer/site/home/anal

2)      http://www.nccn.org/professionals/physician_gls/pdf/anal.pdf

3)      http://portalarquivos.saude.gov.br/campanhas/hpv/

4)      http://www.enf.ufmg.br/internatorural/textos/Manuais/manual_controle_dst.pdfv

5)      http://www1.inca.gov.br/tratamento/tnm/tnm2.pdf

6)      http://conitec.gov.br/images/Protocolos/livro-pcdt-oncologia-2014.pdf

 

Autor:Autor: Dr. Arilto Eleutério da Silva Júnior

CRM-MG 49.540

Médico formado pela UFMG, especialista em oncologia clínica. Atualmente, trabalha na Oncocentro-BH e no Hospital Alberto Cavancante/FHEMIG, em Belo Horizonte. 

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *