Câncer de rim: terapia depois da cirurgia tem benefício?
No inicio de outubro de 2016 foi realizado o congresso da sociedade europeia de oncologia, a ESMO. Foi um congresso com muitas novidades! Nós tivemos a felicidade de participar do evento e acompanhar tudo de perto. Como não somos de ferro, depois fomos passear um pouco pela região oeste da Noruega, um dos lugares mais bonitos do mundo. Nesse e nos próximos posts iremos escrever sobre o que foi apresentado lá.
Todos os anos são diagnosticados cerca de 300 mil novos casos de câncer de rim no mundo, e 129 mil pessoas morrem por causa desta doença. Os estudos anteriores mostraram que, nos pacientes com câncer de rim operados, terapias realizadas após a cirurgia não eram eficientes.
O que os pesquisadores do estudo apresentado na ESMO 2016 avaliaram foi: nos pacientes com alto risco de recorrência (quando o tumor volta) o uso do sunitinib após a cirurgia aumenta o tempo sem o câncer voltar? O sunitinib é uma medicação oral que ja é utilizada no tratamento dos pacientes com câncer de rim metastático.
Foram selecionados 615 pacientes de 21 países para participar deste estudo. Todos eles deveriam atender os seguintes requisitos:
– Ter mais de 18 anos;
– Ter câncer de rim do tipo células claras, avançado, ou seja: tumor estádio 3 e/ou presença de células de câncer nos linfonodos da região operada;
– Ter retirado o rim 3 a 12 semanas antes de entrar no estudo;
– Não ter recebido terapias prévia;
– Não ter sinais de doença residual em tomografias após a cirurgia;
– Não ter pressão alta ou história de evento importante do coração nos ultimos 6 meses;
– Não ter tido outro câncer nos últimos 5 anos;
– Ter boa condição clínica.
Os pacientes foram então divididos em dois grupos de maneira aleatória: um grupo recebeu terapia oral com Sunitinib e o outro grupo recebeu placebo, ambos por um ano. O tratamento podia ser interrompido por desejo do paciente em sair do estudo, toxicidade do tratamento, retorno do câncer ou um novo câncer. Os resultados foram interessantes:
– O grupo do sunitinib teve uma média de 1,2 anos a mais sem câncer;
– O grupo do sunitinib teve maior taxa de interrupções temporarias e definitivas do tratamento e também registrou mais efeitos colaterais importantes;
– Não foram registradas mortes pelo tratamento em nenhum dos grupos.
– Os dados de tempo de vida ainda não puderam ser avaliados.
O que podemos concluir é que, em um grupo de pacientes com alto risco de apresentarem recidiva do câncer de rim, o uso de Sunitinib após a cirurgia traz sim benefício. A terapia está associada a efeitos colaterais que já são bem conhecidos dos médicos que lidam com o câncer de rim. O estudo foi tão relevante que logo após sua apresentação ja foi publicado em uma das mais relevantes revistas médicas.
Bibliografia:
http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa1611406
Autores
Dra Maria Helena Cruz Rangel Da Silva
CRM mg 49563 RQE 28713
Médica Oncologista Clínica da clinica Oncocentro Bh