Câncer: o que são Drogas-Alvo?
Um dos maiores problemas do tratamento medicamentoso do câncer é que as células cancerígenas são, do ponto de vista genético, 99,9% iguais às células normais do organismo. A quimioterapia em geral age sobre o DNA matando as células em rápida multiplicação. Nesse sentido, é preferencialmente nociva às células cancerígenas, mas também a qualquer tecido normal cujas células apresentem característica de rápida proliferação, por exemplo, a medula óssea, a mucosa do tubo digestivo ou as células do bulbo capilar. Isso explica por que os agentes quimioterápicos podem levar à queda dos componentes do sangue, às mucosites e à queda dos pêlos, por exemplo.
Nos últimos anos, com o maior conhecimento sobre o funcionamento das células cancerígenas, concluiu-se que as quatro características que as diferem das células normais (ou “pilares” da formação do câncer) são: alta capacidade de se proliferar; capacidade de invadir outros tecidos e dar metástases; capacidade de formar novos vasos sanguíneos que as alimentem; e capacidade de se tornarem imortais, fugindo do ciclo de morte natural celular (chamado “apoptose”).
A descoberta de várias substâncias que se encontram dentro das células ou no meio que as rodeia e que sustentam o processo de geração e manutenção dos tumores tem propiciado o desenvolvimento de diversas drogas que inibem os pilares da formação do câncer: são as chamadas drogas-alvo que, por atacarem preferencialmente as características existentes nas células tumorais, são geralmente menos agressivas às células normais e mais eficientes contra o tumor. Elas agem, portanto, estimulando a morte celular programada, ou inibindo a formação de vasos sanguíneos que nutrem o tumor, ou bloqueando processos biológicos vitais à célula tumoral. Algumas ainda estimulam o sistema imunitário a reconhecer e destruir células cancerosas, e outras, entregando substâncias tóxicas às células tumorais.
Uma outra conseqüência do melhor conhecimento da biologia celular é a possibilidade, em muitos casos, de se prever qual tumor poderá responder a determinada droga, através da dosagem de “biomarcadores” na célula tumoral. Estes biomarcadores podem ser pesquisados em geral na própria biópsia, através de estudo imunohistoquímico ou da análise genética de mutações, por exemplo.
Atualmente, cerca de 85% dos medicamentos em desenvolvimento para tratamento do câncer são consideradas drogas-alvo. No entanto, não se acredita que estas drogas substituirão completamente os agentes quimioterápicos, mas que se somarão ao arsenal terapêutico da oncologia.
As drogas-alvo podem ser indicadas para tratamento preventivo, curativo ou apenas para controle tumoral. São usadas isoladamente ou em associação com agentes quimioterápicos ou com radioterapia. Somente o médico oncologista pode discutir sobre as indicações, potenciais benefícios e limitações do uso destas drogas para cada situação clínica específica.
Apesar de todas as vantagens citadas, o uso destas drogas, mesmo bem indicado, não garante sua eficácia: os tumores podem ser resistentes desde o princípio ao tratamento ou adquirirem resistência após algum tempo de uso, tal como ocorre com os quimioterápicos. Além disso, para várias drogas ainda não existe um biomarcador para eficácia, ou seja, não há como selecionar quais pacientes terão mais chance de se beneficiar.
Um grande desafio que se enfrenta em todo o mundo e especialmente nos países em desenvolvimento é a dificuldade de incorporação destas drogas aos sistemas de saúde devido ao seu altíssimo custo, que reflete os altos custos com as pesquisas de desenvolvimento destes fármacos.
Alguns exemplos de drogas-alvo já em uso, com os respectivos alvos tumorais, sua via de administração e seus biomarcadores são colocados abaixo:
Droga (s) |
Tipo de Câncer |
Biomarcador (prediz resposta) |
Via de administração |
Tamoxifeno, Anastrozol, Letrozol, Fulvestranto |
Mama |
Imunohistoquímica: Presença de receptores hormonais |
Oral, Intramuscular (Fulvestranto) |
Trastuzumabe |
Mama |
Imunohistoquímica: Presença de HER2 |
Venosa |
Erlotinibe, Gefitinibe |
Pulmão células não-pequenas |
Teste Genético: Mutações do gene EGFR |
Oral |
Imatinibe |
Tumor do estroma gastrointestinal (GIST) |
Imunohistoquímica: Presença de CD117 |
Oral |
Rituximabe |
Linfomas de células B |
Imunohistoquímica: Presença de CD20 |
Venosa |
Cetuximabe |
Cólon |
Teste Genético: Presença de k-RAS sem mutação |
Venosa |
Bevacizumabe |
Cólon |
Desconhecido |
Venosa |
Sunitinibe |
Rim |
Desconhecido |
Oral |
Referências Bibliográficas:
Site do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos:
http://www.cancer.gov/cancertopics/factsheet/Therapy/targeted
Livro: Oncologia Molecular 2ª Edição – Editora Atheneu. Autores: Carlos Gil Ferreira e José Cláudio Casali da Rocha.
Autor:Dr. Geraldo Felício da Cunha Jr
CRMMG 33221 RQE Nº 12891 Oncologista Clínico Coordenador da Residência em Cancerologia do H Baleia – BH Mestre em Medicina pela UFMG Doutorando em Medicina pela UFMG |