Desafios na vivência da sexualidade em pacientes oncológicos

Desafios na vivência da sexualidade em pacientes oncológicos

No ser humano, a sexualidade está ligada não só à reprodução como também à obtenção de prazer, vontade de viver, intimidade e expressão de sentimentos (MALUF, MACIEIRA, 2008).

Dessa forma, no contexto oncológico, as mudanças físicas e psíquicas e a ruptura de planos futuros e estilo de vida causadas pelo diagnóstico ou tratamento alteram a dinâmica do cotidiano e podem conduzir a perda de prazer e esperança.

Seguem algumas questões que podem contribuir para o conhecimento do tema e possíveis dificuldades no percurso:

·         Por que viver a sexualidade de maneira saudável é importante?

Atualmente a sexualidade é considerada por alguns estudiosos como um dos pilares da qualidade de vida, envolve muitas dimensões, ou seja, não somente fatores físicos e psicológicos, mas é influenciada principalmente por fatores psicossociais e culturais além de relacionamentos interpessoais e experiências de vida no contexto da família e da comunidade (DE LORENZI, SACILOTO, 2006 apud MARTINS, 2009).

·         Quais os fatores de relevância para a compreensão da vida sexual de pacientes oncológicos?

Um dos fatores se relaciona a descoberta do câncer, que pode exigir maior preocupação com a própria saúde, exames, medicamentos, cirurgia e dessa forma a atividade sexual fica em segundo plano, ou esquecida por muito tempo.

Outro fator se refere à mutilação de áreas consideradas erógenas, como a mama e testículos. O câncer de mama traz muitas complicações na autoimagem das mulheres diminuindo o desejo de se expor ao parceiro, assim também como o câncer colorretal, no qual na maioria das vezes, é necessário o implante das ostomias que também alteram a autoimagem. Os canceres que acometem aos homens também geram grande preocupação no que se refere à intimidade sexual.

·         Com relação ao câncer de mama, quais as maiores dificuldades?

A mulher que submete à mastectomia como forma de tratamento de um carcinoma sofre um “corte” no ideal de corpo perfeito, tornando-se imperfeito. No caso de mulheres submetidas à quimioterapia e com mudanças em suas condições hormonais, existe o risco ainda maior de virem a apresentar alguma disfunção sexual após o tratamento. Dessa forma conclui-se que o tratamento sistêmico interfere na função sexual e pode ocasionar a menopausa prematura, a perda de estrogênio, provocando atrofia vaginal e diminuição nos níveis de androgênio, consequentemente, a diminuição do desejo sexual.

·         E sobre o câncer ginecológico, pélvico e cérvice uterino?

Conversar sobre intimidade, relacionamentos, questões sexuais e demais aspectos que envolvem o câncer ginecológico e suas consequências não costuma ser algo fácil para os profissionais de saúde. É possível que muitos se sintam desconfortáveis, incomodados ou inseguros e se restrinjam aos estados clínicos das pacientes, campos para os quais foram preparados. (MALUF, MACIEIRA, 2008).

·         Como os profissionais da saúde podem contribuir para identificar essas demandas?

O treinamento dos profissionais torna-se imprescindível para atuação de forma a identificar e assistir os indivíduos com maior risco de desenvolver disfunções sexuais; essa identificação pode ser feita com base na idade, sexo, tipo de câncer, tipo de tratamento e presença de doenças físicas e psicológicas simultaneamente.

·         Quais os desafios enfrentados por pacientes com câncer de testículo?

Os maiores problemas relatados são a cirurgia, quimioterapia e a dificuldade de ereção. A ereção costuma retornar com o passar dos meses e a ejaculação “normal” pode voltar espontaneamente ou com uso de medicamentos, o desejo sexual e os orgasmos podem permanecer sem alterações. O efeito psicológico pode afetar a libido e é importante tratar o casal. (HOLLAND E ROWLAND, 1989 apud MALUF, MACIEIRA, 2008).

·         Quando pode ocorrer as disfunções sexuais?

Qualquer distúrbio ou dor associada ao intercurso sexual pode caracterizar a disfunção sexual, determinada por um distúrbio no processo que caracteriza o ciclo de resposta sexual (American Psychiatric Association, 2002).

Seguem algumas disfunções sexuais :

Disfunções sexuais femininas:

Grupos de Transtorno

Tipo de transtorno

Critérios diagnósticos

Transtorno do desejo

Desejo sexual hipoativo (302.71)

Ausência de fantasias e de desejo de atividade sexual

Aversão sexual ( 302.79)

Aversão à atividade sexual e sua evitação

Transtorno de excitação

Excitação sexual feminina (302.72)

Incapacidade de obter ou manter lubrificação vaginal até o fim da relação sexual.

Transtorno do orgasmo

Orgasmo feminino (302.73)

Ausência ou retardo do orgasmo diante de uma fase de excitação normal.

Transtorno doloroso

Dispareunia ( 302.76)

Dor no órgão genital durante a atividade sexual

Vaginismo (306.51)

Contração involuntária da vagina perante qualquer intenção de penetração
Fonte: DSM-IV-TR-TM (American Psychiatric Association, 2002).

 

Disfunções sexuais masculinas:

Grupos de Transtorno

Tipo de transtorno

Critérios diagnósticos

Transtorno do desejo

Desejo sexual hipoativo (302.71)

Ausência de fantasias e de desejo de atividade sexual

Aversão sexual ( 302.79)

Aversão à atividade sexual e sua evitação

Transtorno de excitação

Ereção masculina (302.72)

Incapacidade de obter ou manter ereção até o fim da relação sexual.

Transtorno do orgasmo

Orgasmo masculino (302.74)

Ausência ou retardo do orgasmo diante de uma fase de excitação normal.

Ejeculação Precoce (302.75)

Início de ejaculação persistente ou recorrente com mínima estimulação, antes , durante ou logo após a penetração e antes que o indivíduo o deseje.
Fonte: DSM-IV-TR-TM (American Psychiatric Association, 2002).

A grande maioria dos problemas sexuais que costumam surgir em pacientes com câncer pode ser prevista com base em um correto diagnóstico e minimizada com aconselhamento psico-oncológico. (MALUF, MACIEIRA, 2008).

·         Quais os recursos disponíveis para um bom manejo da situação vivida?

O exercício da conjugalidade é uma das formas de vivenciar a sexualidade, envolve intimidade com o próprio corpo e com o corpo do parceiro (a) e seu conhecimento. Entende-se por conjugalidade ou identidade conjugal a maneira singular como o casal escolhe ser e interagir e que define sua existência conjugal, características e limites. Já que cada casal é único, sua forma de enfrentamento das dificuldades e obstáculos será também peculiar. (COSTA DE PAULA, 2004 apud MALUF, MACIEIRA, 2008).

·         O que fazer quando tiver dúvidas?

Sempre questione o seu médico sobre as possíveis dificuldades, ou peça orientações aos profissionais capacitados para atendê-lo de forma sistêmica. A falta de esclarecimentos e dúvidas frequentes geram tensão e ansiedade, portanto devem ser evitadas.

·         Como a psico-oncologia pode contribuir para minimizar os impactos na vivência da sexualidade?

As intervenções psicológicas e ou medicamentosas vindas de profissionais sensíveis e criativos podem servir de apoio e auxílio á aceitação do corpo transformado e à reconstrução da autoestima, autoimagem e autoconceito. O profissional especializado em psico- oncologia cabe ajudar na reintegração do eu, favorecendo a melhoria da qualidade de vida dos pacientes, com a inclusão do bem estar sexual. (MALUF, MACIEIRA, 2008).

Bibliografia:

MACIEIRA, Rita de Cássia; MALUF, Maria Fernanda (2008). Sexualidade e Câncer. In: Temas em Psico- oncologia. São Paulo: Summus, 2008

MARTINS, Maria Ângela Veloso (2009).Representação social da sexualidade: Um olhar de mulheres na menopausa.Dissertação de Pós Graduação em Gerontologia da Universidade Católica de Brasília. Disponível em:http://www.bdtd.ucb.br/tede/tde_busca/arquivo.ph

 

Autor:

Suellen Cristina Rodrigues

Psicóloga pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2011)

Especialização em Psico Oncologia pela Faculdade de Ciências Médicas (conclusão Jul 2015)

Atuações profissionais em Psicologia organizacional, Psicologia hospitalar e Clínica.

Atuante no hospital Felício Rocho.

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