O Efeito Angelina Jolie: impacto verdadeiro ou cenas de cinema?

O Efeito Angelina Jolie: impacto verdadeiro ou cenas de cinema?

No ano de 2013 Angelina Jolie decidiu se submeter a uma cirurgia para a retirada das duas mamas como uma maneira de prevenção de câncer de mama. A opção da atriz foi feita após a realização de um teste genético que mostrou que ela é portadora de uma mutação no gene do BRCA . Essa mutação aumenta o risco de câncer de mama e de outros tipos de câncer. A notícia teve repercussão mundial e influenciou diversas mulheres a fazerem tanto o teste genético quanto a cirurgia. O que a ciência quer saber é: será que este impacto foi verdadeiro?

A maneira de avaliar o efeito Angelina Jolie foi um estudo que comparou o antes e o depois da divulgação da cirurgia da atriz. Os pesquisadores avaliaram os bancos de dados de mais de 9 milhões de mulheres americanas de 18 a 64 anos, que tinham cobertura de plano de saúde.

O objetivo principal foi verificar a diferença no número de solicitações para o teste do gene do BRCA 15 dias antes e 15 dias depois do anúncio da decisão da atriz. Estes dados foram comparados com os dados do mesmo período em 2012. O número de mastectomias, cirurgia para retirada da mama, antes e depois da publicação também foram avaliados. Uma análise mais detalhada nas mulheres que fizeram a mastectomia avaliou quantas deles haviam feito o teste do BRCA antes da cirurgia.

O número de testes genéticos nos 15 dias úteis após a publicação aumentou em pouco mais de 60%.  As taxas pós publicação também foram significativamente maiores que as taxas de 2012 no mesmo período. No entanto as taxas de 2012 eram similares às taxas pré publicação. Em outras palavras: a matéria jornalística foi responsável por um aumento em 4500 testes de BRCA nos EUA nos 15 dias seguintes a sua publicação. O aumento no número de testes genéticos se sustentou ao longo de 2013.

O número de mastectomias na população geral avaliada não foi afetado, mas nas mulheres que fizeram o teste do BRCA o número de mastectomias caiu. Este dado sugere que as mulheres que foram testadas tinham pequena chance de ter a mutação, ou seja, não tinham indicação médica formal de serem testadas.

A conclusão do estudo deve servir de reflexão: as decisões de celebridades afetam o uso imediato de recursos financeiros ligados a saúde, mas eles nem sempre são eficazes para atingir a população específica que se beneficiaria com a intervenção em questão.

 

Bibliografia:

www.bmj.com/content/355/bmj.i6357

Autora

Dra Maria Helena Cruz Rangel Da Silva
CRM mg 49563 RQE 28713
Médica Oncologista Clínica da clinica Oncocentro Bh

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