Câncer: Queda de Cabelo e a Quimioterapia
Nenhum outro sintoma é tão associado à quimioterapia quanto a queda de cabelo. Talvez seja o mais preocupante e o que mais cause ansiedade e temor em relação ao tratamento, não só em mulheres, mas também em homens. Alopecia é o seu nome médico!
Porque ocorre queda de cabelo com a quimioterapia? O modo como esses medicamentos atuam no corpo é matando células que se multiplicam rapidamente, como é o caso das células cancerosas, mas também o das células do bulbo capilar (que forma e segura o fio de cabelo) por isso o cabelo é rompido no orifício de saída do couro cabeludo. Mas existem remédios quimioterápicos que não causam a queda de cabelo. A habilidade de um tipo de tratamento determinar ou não a queda de cabelo depende do tipo de medicamento, da dose, da via (oral, endovenosa) e da frequência em que é administrada. Por exemplo, a Ciclofosfamida endovenosa em altas doses quase sempre causa alopecia, mas oral em dose diária e baixa, geralmente não causa. Combinações de drogas também são mais propensas a causar queda de cabelo. Os agentes que mais comumente causam alopecia são Ciclofosfamida, Doxorrubicina, Paclitaxel, Docetaxel, Irinotecano, Topotecano, Etoposide. Em contrapartida, os anticorpos monoclonais (trastuzumabe, rituximabe, bevacizumabe), Vincristina, Vinorelbine, Cisplatina, 5 Fluorouracil, Mitoxantrone raramente causam queda de cabelo. Infelizmente não é possível escolher apenas os medicamentos que não causam alopecia – cada doença requer tratamentos específicos, alguns cursam com alopecia outros não!
A queda de cabelo induzida pela quimioterapia em geral, envolve apenas o couro cabeludo, mas estas drogas em combinações e em doses altas ou dependendo de características individuais do paciente, eventualmente podem ocasionar queda dos pelos axilares, púbicos, sobrancelhas e cílios.
Normalmente a queda de cabelo é completamente reversível, pois a quimioterapia ataca as células que se multiplicam no bulbo capilar e poupam as células responsáveis por reiniciar o crescimento do cabelo. Alopecia permanente após quimioterapia é rara e em geral relacionada à terapia em altíssimas doses associada a transplante de medula óssea, mas eventualmente pode acontecer em terapia padrão para tumores de mama, testículo e linfomas. Habitualmente o cabelo começa a crescer algumas semanas após a última dose de quimioterapia e podemos notar cabelo de razoável tamanho após 3 a 4 meses.
Habitualmente as mulheres costumam utilizar perucas ou lenços e os homens bonés ou chapéus para disfarçar a perda do cabelo, mas existem alternativas mais modernas como perucas feitas sob medida e apliques – megahair – com o próprio cabelo que foi cortado antes de iniciar o tratamento (1). Alguns pacientes inclusive optam por assumir publicamente o tratamento sem utilizar adereço algum.
Existem várias tentativas de prevenir a queda de cabelo. Uma delas é diminuir o fluxo de sangue para o couro cabeludo durante a infusão de quimioterapia que pode ser feita com um dispositivo inflável colocado em volta do cabelo com pressão acima da pressão arterial. Outra modalidade seria diminuir a temperatura do couro cabeludo o que também causa diminuição do fluxo sanguíneo. Alguns pacientes que testaram estas técnicas queixaram-se de dor de cabeça, compressão de nervos, tonteiras e desconforto com os dispositivos. Poucas cidades têm estas modalidades disponíveis.
Outra maneira de tentar prevenir queda de cabelo seria com medicações que possam proteger as células do bulbo capilar da ação da quimioterapia. O minoxidil tópico já foi estudado em voluntários e infelizmente não preveniu a queda de cabelo, mas diminuiu o tempo que leva para o cabelo crescer (2). Alguns medicamentos experimentais preveniram a queda de cabelo em alguns estudos, mas estes achados não foram confirmados em estudos posteriores (AS101, alfa-tocoferol) (3,4). Alguns medicamentos estão em fase de pesquisas mas nenhum ainda foi comprovadamente eficaz (5).
Felizmente, novos medicamentos de combate ao câncer têm surgido, chamados de drogas inteligentes, que atacam alterações específicas das células tumorais sem atacar as células que formam o cabelo, abrindo uma nova fronteira de tratamento que proporcionam controle da doença por mais tempo que a quimioterapia convencional e com menos efeitos colaterais, proporcionando melhor qualidade de vida. Este é o futuro que vislumbramos: medicamentos melhores e mais vida!
Bibliografia:
1) Batista JrJ; Revista Veja 2012, Fev 08, edição 2255: “Nada está por um fio”.
2) Duvic M, et al. J Am Acad Dermatol 1996; 35:74
3) Sredni B, et al. J Clin Oncol 1995; 13:2342
4) Wood LA. N Engl J Med 1985; 312:1060
5) Chon SY, et al. J Am Acad Dermatol 2011 Dec 16. [Epub ahead of print]
Autor:Dr Roberto Ferreira Filho CRM GO 9518Médico Oncologista Clínico – Centro Goiano de Oncologia |
Anderson Almeida -
Conteudo bastante enriquecedor. Parabéns !!!
FalandoSobreCâncer -
Muito obrigado pelo elogio e pela participação.